quinta-feira, 22 de abril de 2010

Súplica










Pai
me faz pequena de novo
ser grande é ilusão
me torna criança por dentro
me cura de ser adulta!

Pai
me livra dessa armadura
de sobriedade
me faz sábia sem carregar
fardos de sobriedade!

Pai
me transforma em alegria
brinca comigo
me deixa pensar que o mundo
é um parque de diversão colorido!

Pai
me devolve à infância
mas me resguarda de ser infantil
me permita escutar a música agradável
que emana dos risos
me contagia de emoção!

Pai
me purifica das ambições
da maturidade
me suja de serenidade e paz
lava meus olhos
me faz enxergar as belezas misteriosas
da natureza!

Pai
me faz transbordar de curiosidade
para todo o sempre
para todo o sempre
eu descobrir o infinito
de maravilhas criado
para mim!



Polliana Dias

domingo, 11 de abril de 2010

Divagações

Inspiração é quando
A alma acorda
De um sono longo.

Alegria é quando
A alma sai pra
Dançar dentro do corpo

Solidão é quando
A alma não acha
Onde aconchegar os sentimentos

Sonho é quando
A alma se liberta
E faz o que quer

Sonho é (ainda) quando
A alma deseja sem rédeas
Com impulso e fervor

Razão é quando
A alma dorme
Num sono quase mortífero

Sabedoria é quando
A alma sente
E por isso aprende

Angústia é quando
A alma não enxerga
A luz na incerteza

Loucura é quando
A alma se rebela
E açoita a razão

Choro é quando
A alma se lava
Das impurezas do mundo

Coração é o lugar
Que a alma encontrou
Para morar

Beijo é o caminho
Que a alma percorre
Para visitar outro coração

Amor é quando
A alma gosta do beijo
E passa a morar
Em dois corações.

Polliana Dias

Um certo Rubem Alves


Talvez este nome: Rubem Alves, não seja tão familiar. Ele não tem a popularidade do Paulo Coelho, mas o Pedro Bial falou nele no BBB10, sinal de que muitas pessoas, e pessoas importantes, já desembrulharam um livro seu. Sim, exatamente isso, desembrulhar um livro-presente, pois a sua literatura, simples, cotidiana, nostálgica, é um agrado para qualquer leitor.
Eu conheci seu trabalho na faculdade, textos belíssimos falando sobre o trabalho do educador. Fiquei impressionada, pois eu estava ali, sentada num banco de faculdade com uma mochila de idealismo sobre o meu colo e de repente me vem um texto falando que professor é diferente de educador, era tudo que eu precisava ouvir para seguir a diante com a minha bagagem romântica. Segurei no dedinho do Rubem Alves e segui rumo ao meu diploma de educadora.

A arte de educar não aconteceu, segui outros rumos, nem sempre os ventos compreendem nossas aspirações e sopram em desvio, nos empurrando para outros caminhos (talvez os certos). Eu acabei me deixando desviar, mas sem me corromper, a minha mochila de idealismo cresceu, se transformou em mala das grandes e Rubem Alves contribuiu muito para isso. Passei a ler muitos dos seus textos e fui ficando apaixonada pela surpresa que as palavras dele me causavam, uma surpresa de ver coisas que pensava, que sentia, que refletia, tudo ali, diante dos meus olhos num livro.

Até que um dia ele veio à minha cidade, Rubem Alves, o escritor! Fiquei alucinada, um êxtase tomou conta de mim, finalmente eu veria um escritor de que gosto tanto ao vivo, em cores, tão perto, o mínimo que gostaria era de tirar uma foto, fui preparadíssima para a palestra.
Chegando lá já não tinha mais lugar na frente, o evento era para educadores no presente e no futuro, salão completamente lotado, muitos ouvidos ansiosos. Eu me sentei longe do palco, mas saboreei cada palavra, cada história, cada gesto, cada aforismo... e queria tirar uma foto para registrar o momento... mas não foi possível. Ele se justificou dizendo que estava adoentado e por isso não tiraria fotos. O jeito foi me conformar e ir embora mastigando lentamente tudo que ouvi para o cérebro digerir os melhores momentos e depois arquivar o gosto das melhores histórias na minha memória.

Mas não sosseguei, quando fiquei sabendo que um amigo, pelo intermédio de sua irmã, foi ao hotel e conversou com o Rubem Alves, eu quase sucumbi. Ele sabia da minha admiração pelo escritor e nem me chamou para ir junto, por isso disse que só o perdoaria se ele conseguisse o e-mail do Rubem para eu enviar meus textos. Ele conseguiu o e-mail da editora que publica os livros. Eu, eu não tive coragem de enviar. Muitas vezes olhei para o e-mail, até comecei a digitar algumas palavras cordiais, mas desisti em seguida, pois como sabia que ele não seria o único a ver o conteúdo enviado, resolvi pensar melhor no assunto. Escrever, às vezes, é como tirar a roupa. Dependendo da pessoa que nos lê, dá vergonha ou não de nos despir. Se for uma pessoa querida, a vergonha é mínima, mas existe. Se for uma pessoa desconhecida, a vergonha é enorme, é como tirar a roupa para o médico e ser examinado. Mas quem se envereda pelo caminho da escrita, da literatura melhor dizendo, tem que ser sem vergonha, tirar a roupa de uma vez e sair correndo de mãos dadas com as palavras que pôs no mundo.

Quando ainda estava na dúvida se enviava ou não o e-mail para o Rubem Alves, ganhei de aniversário um livro de sua autoria. O livro, faço questão de citar, tem como título “O velho que acordou menino” e faz parte das memórias de infância de Rubem. Isso sim que eu chamo de tirar a roupa, o autor consegue se despir de tal forma que impressiona e emociona. A infância do escritor está nua neste livro e ao ler, é possível tirar a roupa de adulto que nos propomos a vestir e retornar à pequenez grandiosa da infância.

Enquanto lia o livro, ficava mais encantada com Rubem Alves e entrei no seu site oficial. Entre tantos textos, escolhi, aleatoriamente, logo um que o escritor fala que não gosta de receber textos de outras pessoas para fazer considerações. Ufa! Ainda bem que não enviei os meus, fiz bem em esperar e pensar mais um pouco antes de tirar a roupa.

Pode ser que um dia meus textos cheguem até ele e pode ser que um dia possamos conversar, ou quem sabe tirar uma foto após uma palestra. Se isto não acontecer, eu seguirei lendo Rubem Alves da mesma maneira: sorvendo cada palavra com atenção e admiração. Seguirei aprendendo com suas histórias que me inspiram a brincar com as palavras, na esperança que um dia elas brinquem comigo e transformem a brincadeira em ofício. Para isto acontecer eu só preciso ficar sem vergonha de vez e arrancar a roupa das minhas palavras para quem quiser ver e ler, mesmo sabendo do risco que corro, como disse bem o Rubem: “Tristeza eu tenho porque muitas das coisas que moram na minha alma não podem ser comunicadas. Por mais que eu diga e explique, quem ouve não entende”. Mas é preciso dizer, explicar e arrancar a roupa quantas vezes for preciso, pois sempre haverá alguém com olhos atentos para tentar entender e alma a postos para aceitar a loucura de quem se atreve a caminhar com e para as palavras, pois como o mesmo autor disse: “Pode ser que coisa dita não seja entendida, mas o sentimento que mora nos vãos das palavras, esse sentimento é sentido”.

Polliana Dias