sexta-feira, 17 de abril de 2009

A reforma no cômodo errado

Para começar, escolhi um assunto um tanto polêmico e que tem dividido muito as opiniões dos brasileiros. O assunto é: Reforma da Língua Portuguesa. No dia 16 de maio foi assinado pelo Itamaraty e a Academia Brasileira de Letras o acordo para unificação da ortografia para os países lusófonos, são eles: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. O objetivo desta reforma é unificar a escrita nestes países e assim promover uma integração entre eles.
A proposta no papel é até interessante, justificada pela economia que haverá no sentido de que livros produzidos em Língua Portuguesa não precisarão receber uma tradução particular em cada nação que, aparentemente, falam o mesmo idioma. Neste mesmo raciocínio entra o acesso facilitado a toda a cultura dos outros países e para completar, o fato de que esta unificação lingüística possibilitará estudos sobre uma política de alfabetização comum. Por mais que as mudanças não sejam tão drásticas, são mudanças e requerem tempo para serem assimiladas.
Vejo esta reforma como uma maquiagem, algo que vem para mascarar o que não foi feito. Para aqueles que detestam a Língua Portuguesa pelas suas regras confusas e cheias de exceções, alegram-se pela facilidade que a mudança trará em acentos gráficos excluídos, o trema já obsoleto dando adeus às páginas escritas, hífens que abandonam antigas companheiras, enfim, aprovam a mudança pela facilidade, mas esquecem-se de todo o transtorno que ela trará. Imagine crianças que já foram alfabetizadas sabendo de todas as regras e de repente terão que aprender novamente as regras do português escrito que elas falam com muita destreza e habilidade? A cabeça destas crianças ficará mais confusa do que a própria língua. Livros e dicionários tendo de ser revistos, editados e novamente comprados. A reforma está prevista para entrar em vigor dentro de seis anos, porém os livros didáticos terão dois anos para se atualizarem, haja fôlego!
Não concordo com a mudança porque a enxergo desnecessária. É como se uma pessoa tivesse dinheiro para fazer um investimento a seu favor, a primeira coisa que ela faz é olhar-se no espelho e enxergar milhões de defeitos físicos e pensa: “Estou acima do meu peso, vou utilizar esse dinheiro para dar uma enxugada no meu visual”. Este foi o governo aplicando uma lipoaspiração na Língua Portuguesa, preocupou-se somente com a estética e não com a real causa do problema. Se a pessoa que poderia fazer o investimento, investisse em seu crescimento intelectual não daria tanta importância aos fatores estéticos, compreendendo que a melhor mudança é aquela conquistada todos os dias. Se assim agisse, o governo entenderia que o enxugamento a ser feito é no semi-analfabetismo instaurado nos bancos das escolas, trocaria redução de hífens por aumento de salários e formação continuada para os professores, no lugar de exclusão de acentos gráficos, instauração de um novo modelo de ensino condizente com a realidade de cada região e faixa etária. Ao invés de uma reforma da Língua Portuguesa, a construção do conhecimento com base na amplitude da nossa língua e da nossa cultura, pois a reforma a ser executada é na Educação Brasileira.
O velho português já sofreu mudanças e poderia continuar sofrendo ao longo dos anos, não há línguas estáticas, pois não há falantes aprisionados em gramáticas normativas. O que não me agrada é reformar o cômodo que pode agüentar mais alguns vendavais e tempestades enquanto a parte da casa que está desabando não recebe atenção.

Polliana Dias

Julho de 2008

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